Blog do Paulus: Parte 3 - Interpretação de receita e indicação de produto

Parte 3 - Interpretação de receita e indicação de produto


Objetivo.

Nesta terceira parte sobre interpretação de receita e indicação de produto, vamos falar sobre Miopia, seus tipos e as melhores indicações de lentes.

Definição da Miopia.

Antes de iniciarmos a interpretação do receituário, vamos citar uma ótima definição sobre a miopia que encontrada nos arquivos brasileiros de oftalmologia:

"As miopias se dividem em primárias e secundárias. As formas primárias se subdividem em fisiológicas, intermediárias, patológicas e por curvatura. As formas secundárias decorrem de alterações estruturais no globo ocular, como exemplo as secundárias ao alongamento do globo, como no glaucoma juvenil.
Os vários tipos de miopia primária podem ser diferenciados pelo comprimento axial do globo ou, mais frequentemente, por seu estado refratométrico: aqueles com miopia abaixo de -3,00 dioptrias (D) são portadores de miopia fisiológica; os que apresentam entre -3,00 e -5,00 D apresentam tanto miopia fisiológica como intermediária e aqueles com refrações entre -5,00 e -8,00 D possuem miopia intermediária ou patológica. Indivíduos com miopia superior a -8,00 D são portadores, invariavelmente, de miopia patológica.
Na miopia fisiológica os olhos são normais quanto ao aspecto fundoscópico: na intermediária o comprimento axial está aumentado e as alterações fundoscópicas são mínimas..." (*)

O texto referencial acima nos ajuda a definir o primeiro aspecto a ser observado no receituário que é o estágio da miopia em que se encontra nosso cliente. O "status" da miopia auxilia na identificação das necessidades de nosso cliente em relação a estética e qualidade visual.

Contexto Técnico.

Antes de iniciarmos a indicação a opção ideal para cada tipo de miopia, vamos conversar um pouco sobre alguns princípios técnicos fundamentais das lentes negativas.

Para que nossa conversa seja franca e direta, vamos desmitificar algumas questões:

  1. Índice de refração alto não é garantia de lente fina.
  2. Não adianta exagerar em índices de refração altos e sim escolher o adequado.
  3. A surfassagem não vai deixar a lente negativa mais fina.
  4. A escolha da armação é decisiva no resultado estético.
  5. As medidas devem ser observadas e respeitadas.
Agora que apresentei acima algumas questões, gostaria de justificá-las respectivamente:
  1. Não adianta oferecer uma lente de alto índice e montá-la numa armação grande pois a espessura não será a esperada e sim mais grossa.
  2. A diferença de espessura entre um índice e outro é pequena e em algumas faixas de graduação não vale a pena empregar um índice mais alto.
  3. A lente negativa já tem o centro fino e a surfassagem não conseguirá otimizar nenhuma espessura, portanto vender lente surfassada em grau negativo é desnecessário a não ser que a venda esteja focada na tecnologia free form para redução das distorções e maior conforto.
  4. Quanto mais centralizada a armação estiver no rosto do usuário mais homogênea será a redução da espessura entre as áreas nasal e temporal das lentes.
  5. Caso o cliente já use óculos é importante remarcar as lentes de uso e observar o valor da DNP que foi montado na armação. Caso esse valor seja diferente daquele
    que você mediu no pupilômetro será necessário decidir o que será feito pois caso o óculos novo seja montado numa DNP nova e de valor menor, as lentes vão ficar mais grossas e o cliente irá estranhar a visão com essa tomada de medida. Caso a DNP de uso seja montada numa armação de tamanho próximo a anterior teremos a possibilidade de uma espessura semelhante de lente e uma adaptação visual mais rápida. Podemos reeducar o usuário numa DNP nova? Sim, podemos mas isso requer tempo, uma boa explicação a ele bem como sua devida autorização.

Espessura Padrão.

Antes mesmo da recomendação, precisamos saber a espessura de borda padrão das lentes prontas negativas em diâmetro de 70 milímetros nos mais diversos materiais e índices de refração. Dessa forma podemos entender qual será a espessura máxima de uma determinada graduação num determinado índice e sua diferença em relação a um índice maior. Será que vale a pena usar um índice maior?

A tabela que temos abaixo mostra a espessura de borda de lentes negativas no diâmetro de 70mm em graduações de -2,00 a -10,00 nos mais diversos materiais e índices de refração. As espessuras assinaladas em vermelho apresentam o melhor resultado possível dentro daquela graduação. As espessuras assinaladas em preto já não são tão favoráveis e servem para nós entendermos que a diferença da espessura é muito pequena para justificar a escolha de um índice maior para a obtenção de uma lente mais fina. Veja abaixo:










Caso queira fazer o download gratuito dessa tabela, basta clicar AQUI.

Agora sim podemos citar quais são as lentes ideais de acordo com o tipo de miopia interpretado pelo profissional óptico na receita de seu cliente.

Tipos de miopia e suas indicações de lentes.

Conhecida por nós como leve ou moderada, a miopia fisiológica é aquela cujo receituário vai até -3,00 dioptrias. Esse receituário, como podemos observar na imagem abaixo, permite ao óptico adaptar uma variada gama de lentes para óculos, onde o aspecto principal da venda está focado na centralização da armação no rosto do usuário.


Miopia fisiológica

Na miopia fisiológica o CR39 ou resina 1.50 (lente pronta) podem ser utilizadas nas dioptrias até -1,75 preferencialmente montando em armação centralizada para um ótimo trabalho de estética e espessura. Nas dioptrias entre -2,00 e -3,00, os índices 1.53, 1.56 e 1.59 são ótimas opções de lentes prontas para a montagem em armações bem escolhidas.


A miopia fisiológica intermediária (veja na ilustração abaixo) apresenta receituários com dioptrias variando entre -3,00 e -4,75 onde as lentes prontas com índices 1.59 e 1.60 apresentam resultados estéticos melhores que o 1.53 e o 1.56. Não há necessidade de oferecer resina 1.67 nessa faixa de graduação devido a mínima diferença de espessura entre esse índice e os 1.59 e 1.60.


Miopia fisiológica intermediária

Na questão visual, se o seu cliente nesta graduação estiver acostumado com o uso de um índice de refração mais baixo, ele vai "estranhar" um pouco lentes com índices mais altos, pois as lentes prontas com índices acima de 1.61 apresentam um valor de curvatura

significativamente mais baixo que os índices menores, o que pode ocasionar uma alteração de contraste que o seu cliente pode pensar que seja falta de nitidez, mas não é. Normalmente, as pessoas nesta situação se adaptam a nova curva no máximo em uma semana. 
Os indivíduos que possuem graduações que variam entre -5,00 e -7,75 podem ser portadores de miopia fisiológica intermediária ou miopia patológica. Esses receituários requerem para um resultado visual e estético otimizado lentes com índices 1.59, 1.60 e 1.67. Note na tabela de espessura que o índice 1.67 vai começar a apresentar uma espessura 1mm menor em relação aos índices mais baixos nas graduações entre -6,50 e -7,50 portanto abaixo dessas graduações as resinas 1.59 ou 1.60 já são suficientes.


Miopia fisiológica intermediária ou patológica

A miopia patológica (ilustração abaixo) é aquela que apresenta em seu receituário dioptrias acima de -8,00. Entre -7,50 e -8,00 podemos ter bons resultados estéticos com lentes em resina de índice 1.67 onde a escolha de uma armação centralizada deve ser a mais precisa possível. Entre -8,50 e -9,50 a resina 1.74 vai apresentar um resultado um pouco melhor do que a resina 1.67. Caso o cliente não queira lentes em cristal a resina 1.74 será uma boa alternativa nas graduações entre -8,50 e -12,00. A partir de -12,00 os Hi Lites 1.80 vão apresentar menor espessura.


Miopia patológica

Escrevi uma matéria citando as últimas novidades em lentes de óculos para a correção de miopias patológicas. Para acessar esta matéria, CLIQUE AQUI.


Em todos os casos de miopias apresentados acima é fundamental a escolha de uma armação que fique centralizada no rosto de seu cliente. A melhor forma de conseguir isso é medir a DP de seu cliente e depois pré-selecionar armações onde a soma da ponte e do
aro resulte num valor muito próximo ou igual da DP de seu cliente. Dessa forma você garante que a distribuição horizontal da espessura da lente seja a melhor possível. Para acessar a matéria completa sobre centralização da armação para solucionar problemas de lentes espessas, CLIQUE AQUI.

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(*) Arq. Bras. Oftalmol. vol.63 no.3 São Paulo June 2000. Miopia na Infância, de Rosana Nogueira Pires da Cunha.

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