Blog do Paulus: Parte 4 - Interpretação de receita e indicação de produto

Parte 4 - Interpretação de receita e indicação de produto

Matéria escrita por Paulus Maciel. Direitos reservados.


Introdução

Nesta quarta parte da série de matérias sobre interpretação de receita e indicação de produto, vamos abordar a correção da hipermetropia.

Para entender de forma eficiente as necessidades desse usuário, é importante saber quais são as classificações existentes para a correção da hipermetropia.


Classificações da hipermetropia

Para facilitar o estudo da correção óptica, classificam-se as hipermetropias em quatro grupos: fraca, moderada, forte e anisometropia cujos valores dióptricos são dependentes da idade do paciente.

1. A correção na hipermetropia fraca só se justifica em presença de transtornos funcionais.
2. A hipermetropia moderada deve ser corrigida, já que é uma ametropia capaz de dar origem a importantes transtornos funcionais. Recomenda-se a correção equivalente à metade da potência dióptrica obtida pelo exame com cicloplegia total.
3. A Hipermetropia forte exige correção já que dela advêm disfunções importantes, nem sempre claras para os pacientes,principalmente para os mais jovens, como os torcicolos sem estrabismos. A Hipermetropia alta está, muitas vezes, associada a estrabismos convergentes ou a estrabismos de pequeno ângulo, quando a necessidade da correção total da ametropia é um tratamento preventivo para a ambliopia.
4. As anisometropias hipermetrópicas refletem importante perda de funções binoculares com valores dióptricos menores que 1 dioptria (*1,2,3,4,5,6)



Lentes prontas versus lentes surfassadas e lentes esféricas versus lentes asféricas


LENTE POSITIVA ESFÉRICA
Na terceira parte desta série, observamos que o índice de refração e a escolha da armação são critérios importantíssimos para lentes negativas mais finas. Agora, nas hipermetropias, a opção da surfassagem, aliada a escolha de uma armação centralizada são fundamentais para a redução da espessura.

Na hipermetropia, independente de seu estágio, a recomendação é sempre oferecer ao seu cliente lentes asféricas, já que este tipo de superfície reduz as aberrações ópticas presentes na periferia das lentes, além de proporcionar a redução do "efeito lupa", efeito esse que prejudica esteticamente a utilização dos óculos. Observe as ilustrações ao lado.


LENTE POSITIVA ASFÉRICA
Nem sempre as lentes prontas de índices 1.56 ou policarbonato (1.59) são esféricas e o mesmo pensamento se aplica aos blocos utilizados para a surfassagem desses produtos, portanto questione seu fornecedor quais produtos, materiais e índices estão disponíveis em superfície asférica. Normalmente as lentes prontas 1.56 e 1,59 de preços mais baixos são esféricas. Um bom exemplo dessa diferença está nas lentes Essilor TFL Trio Easy Clean (esférica) e Airwear Crizal (Asférica) o mesmo se aplica aos blocos dos respectivos produtos.  

Lentes prontas de índices 1.61, 1.67 e 1.74 em sua maioria são asféricas, já os blocos necessitam de consulta ao laboratório.


A importância de um diâmetro reduzido

O resultado de espessura em lentes positivas pode melhorar se o diâmetro trabalhado for o menor possível. Normalmente as lentes positivas acabadas estão disponíveis no diâmetro 65mm. Em dioptrias positivas médias e altas (na prática a partir de 3,00) a surfassagem pode fazer uma diferença de espessura em tanto, caso você escolha uma armação que em conjunto com as medidas de seu cliente possa proporcionar um cálculo de diâmetro inferior a 65mm.

Na simulação abaixo temos uma armação de acetato com a ponte 20, horizontal do aro 46, diagonal maior 46, vertical 35 com uma DP de 64mm. De acordo com essas medidas, poderíamos reduzir bem o diâmetro das lentes positivas a serem confeccionadas na surfassagem. Em lente pronta o diâmetro seria 65mm, na surfassagem seria 13,4mm menor, isso é 51,6mm. Com certeza uma lente positiva seria muito mais fina num diâmetro bem menor. Mais uma vez chegamos a conclusão que o segredo para lentes finas é a escolha do aro. (Clique na imagem para ampliá-la, caso necessário).



Quem ainda não fez o download gratuito da planilha para cálculo de diâmetro basta clicar AQUI.


Escolha da armação


Exemplo de aro grande e sem centralização do olho
Evidentemente os diâmetros reduzidos dados como exemplo acima vem de armações centralizadas no rosto do usuário onde quanto mais próxima a soma da ponte com o aro for da DP do usuário maior será a centralização e consequentemente menor diâmetro e lentes mais finas.

Quanto maior a armação no rosto do usuário menos centralizado o seu olho vai ficar no aro da peça. Isso resulta no deslocamento do centro da lente (parte grossa) em direção a área nasal do óculos. Na hora da montagem, levando em consideração a DNP do usuário, a lente em questão será muito menos recortada na área temporal, concentrando a parte mais grossa e pesada na área nasal tornando assim o uso do óculos desconfortável devido a má distribuição de espessura e peso.


Lente positiva com maior concentração de espessura (centro) na área nasal da armação. 


Índices compatíveis

São aqueles que proporcionalmente e em conjunto com a armação adequada vão oferecer a melhor redução de espessura possível, sendo que nas faixas de hipermetropia as 
Perfil de lentes positivas (hipermetropia)
recomendações para máxima performance são as seguintes...
+0,25 a +1,75 índices 1.50 ou 1.53 
+2,00 a +3,00 índices 1.56 ou 1.59 ou 1.61
+3,25 a +8,00 índices 1.61 e 1.67
+8,25 a +9,00 índice 1.67

Evite ao máximo as armações com lentes presas a fio de nylon pois são as que apresentam o pior resultado estético para o encaixe de lentes para hipermetropia. As lentes ficam grossas demais na borda inferior (totalmente exposta na armação) e muito fina nas temporais, fazendo com que o nylon escape acidentalmente por diversas vezes. 

Observação importante

Nunca se esqueça de oferecer as tecnologias antirreflexo e fotossensível que aumentam ainda mais o conforto do hipermetrope na utilização de seus óculos.

Resumo

Agora, vamos fazer um resumo para que possamos prestar o melhor serviço possível ao nosso cliente hipermetrope:
  • As hipermetropias são divididas em quatro estágios: fraca, moderada, forte e as anisometropias hipermetrópicas.
  • Independente do estágio de hipermetropia que seu cliente se encontra, sempre ofereça lentes asféricas, pois são esteticamente mais planas, possuem qualidade visual superior na periferia e reduzem o efeito lupa, fazendo com que os olhos pareçam com seu tamanho natural.
  • Sempre meça a DP de seu cliente antes de oferecer armações a ele.
  • Escolha armações que a soma da ponte com o aro seja próxima ou igual a DP medida antecipadamente, isso vai implicar no menor diâmetro possível para a otimização da espessura da lente.
  • Se a armação escolhida em conjunto com as medidas proporcionar um diâmetro inferior a 65mm, ofereça ao seu cliente lentes surfassadas, principalmente se ele tiver
    a hipermetropia um pouco mais forte. Este procedimento garantirá o menor diâmetro possível na confecção, reduzindo ainda mais as lentes se comparadas a uma lente pronta de mesmo índice de refração.
  • Observe na receita a graduação positiva de seu cliente e ofereça sempre lentes asféricas de índices de refração coerentes com a ametropia dele. (Veja tabela acima).
  • Ofereça sempre as tecnologias antirreflexo e fotossensível para aumentar a performance e durabilidade das lentes, além de proporcionar conforto superior ao cliente.
Demonstre sua reação em relação a esse artigo:


*Referências:
1. Edelman PM, Borchert MS. Visual outcome in high hypermetropia. J AAPOS 1997;1(3):147-50.
2. Brooks SE, Johnson D, Fischer N. Anisometropia and binocularity. Ophthalmology 1966;103(7):1139-43.
3. Grahan B. Judge SJ. The effects of spectacles wear in infancy on eye growth and refractive error in the marmoset (Callithrix jacchus). Vision Res 1999; 39(2):189-206.
4. Cordonnier M, Dramaix M. Screening for abnormal levels of hyperopia in children: a non-cicloplegic method with a hand held refractor. Br J Ophthalmol 1998;82(11):1260-4.
5. Wildsoet CF. Active emetropization-evidence foir its existence and ramifications for clinical practice. Ophthalmic Physiol Opt 1997;17(4): 279-90.
6. Levartovsky S, Oliver M, Gottesman N, Shimshoni M. Long-term effect of hypermetropic anisometropia on the visual acuity of treated ambliopic eyes.Br J Ophtalmol 1998;82(1):55-8.

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