Blog do Paulus: Guia definitivo sobre materiais de lentes para óculos

Guia definitivo sobre materiais de lentes para óculos

Introdução


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Enquanto isso, boa leitura!

A avalanche de marcas diferentes de lentes assusta o consumidor final na sua escolha. São inúmeras marcas de fabricantes diferentes que podem entre elas oferecer diferenciais de campo visual (multifocais) e também de proteções diversas (tecnologias antirreflexo, fotossensíveis etc).

Algumas características encontradas nos materiais de lentes como índice de refração e densidade, por exemplo são universais e não variam tanto de fabricante para fabricante, principalmente aqueles reconhecidos pelo mercado. Evidentemente as tecnologias adicionais como antirreflexo e fotossensível podem fazer com que um produto seja melhor do que o outro mas a característica do material em si é praticamente universal.

A minha intenção não é dizer que você pode comprar lentes de qualquer fabricante pois os materiais são todos iguais. A ideia é lhe mostrar que as características que vamos estudar aqui neste artigo são comuns em todas as marcas de lentes sabendo que não basta que o material da lente seja bom mas suas tecnologias adicionais, campos visuais precisam ter boa performance, daí vem a diferenciação de um fabricante para o outro.

O objetivo deste artigo é mostrar ao profissional óptico e ao consumidor final com uma linguagem de simples entendimento quais os melhores materiais de lentes para óculos quanto a espessura, leveza, resistência e qualidade óptica.

Quero ressaltar que a referência para a elaboração desse artigo e 100% prática, portanto não serão citadas referências bibliográficas pois tudo que está sendo exposto no texto é fruto da experiência prática que tive durante todo o meu tempo de experiência no ramo óptico.


Definição dos materiais de lentes

Os materiais de lentes são classificados em minerais (conhecidos como cristal ou vidro) e polímeros (materiais sintéticos). 

As lentes minerais são cada vez menos vendidas devido ao risco maior de quebra (material frágil ao impacto) e também pelo peso final mais acentuado. A maioria das pessoas que "optam" pelo mineral é porque possuem uma graduação mais elevada de miopia e necessitam de lentes com índices de refração mais altos como 1.80 e 1.90 ainda não disponível nos polímeros. Algumas pessoas mais tradicionais, independente do grau optam também pelo material mineral por considerarem mais resistentes a arranhões.

Os polímeros são materiais sintéticos feitos através da combinação de diversos elementos químicos. São "resinas" de diversos índices de refração com inúmeras variedades de tratamentos (antirreflexo, fotossensível etc). Alguns materiais sintéticos ganham destaque pois possuem propriedades diferenciadas de leveza e resistência, tanto que não são chamados comercialmente de "resinas" e sim de policarbonato e Trivex.

Os polímeros são os materiais de lentes para óculos mais vendidos em todo o mundo devido as propriedades de leveza e resistência além da variedade de índices de refração, campos visuais e tecnologias de proteção disponibilizadas pelos fabricantes. Outro ponto muito forte que faz o polímero se destacar atualmente é que apenas esse tipo de material pode ser produzido digitalmente (método freeform etc) proporcionando melhor campo visual, redução de distorções laterais entre outros benefícios. Não se faz surfassagem digital, gerando produtos diferenciados em lentes minerais.

Características principais dos materiais de lentes

A partir de agora vamos concentrar nossos esforços em entender os polímeros pois eles definitivamente são soluções mais eficazes e modernas em termos gerais.

Focando no interesse do consumidor final os materiais de lentes precisam oferecer três principais características que são: menor espessura (índice de refração), leveza (composição química do polímero) e resistência (impactos mínimos ou moderados e também na montagem das lentes em armações do tipo "três peças" ou "fio de nylon").

Evidentemente as lentes também precisam oferecer ao consumidor final qualidade de imagem e esse é um ponto muito polêmico pois muitos profissionais ópticos acabam atribuindo ao material das lentes a responsabilidade pela não adaptação do usuário e não é bem assim que as coisas acontecem. Existem inúmeros fatores que contribuem para a queda no rendimento da qualidade visual entre eles medidas (DNP e altura), ajustes da armação, escolha do material face ao que o consumidor já está acostumado, curvatura exagerada da armação e por aí vai.

Eu sou um dos únicos profissionais ópticos brasileiros que ignoro o famoso "número Abbe" que é utilizado por muitos como a "válvula de escape" da não adaptação do usuário ao material da lente. Ao longo dos meus vinte anos de carreira no ramo óptico acompanhando e resolvendo problemas de adaptação posso afirmar categoricamente que o "número Abbe" é responsável por pouquíssimos problemas de adaptação. Nunca precisei trocar uma lente para o consumidor final por causa do "número Abbe"; troquei por outros fatores como curva base, medidas fora do costume ou ajustes fora de costume além do aspecto que vou descrever logo abaixo.

Pontualmente algumas lentes em policarbonato precisam ser substituídas por outras resinas devido ao efeito desconfortável da birrefringência (tensão de entrada gerada quando a matéria prima do material é injetada sob pressão no molde que irá formar a lente). A  birrefringência causa um efeito de aparência colorida e dispersiva nas bordas das lentes (veja imagem acima) em policarbonato (típico dos policarbonatos fabricados em larga escala de produção). Pessoas mais sensíveis podem perceber esse efeito e se queixarem a respeito. 90% dos profissionais ópticos acreditam que esse efeito colorido é por causa do número Abbe mas é por causa da birrefringência. Caso queiram saber mais sobre número Abbe existem muitos artigos de excelentes profissionais falando a respeito. Espero que os profissionais não fiquem bravos comigo mas se puder dar um conselho, eu digo: "Número Abbe? esqueça isso!"

Comparativo entre os materiais e suas características em comum

Levando em consideração que o exame de vista foi bem feito, o consumidor foi entrevistado quanto as suas necessidades, a lente atual foi examinada, a armação está bem ajustada e as medidas foram bem executadas; podemos fazer agora um comparativo como os principais materiais de lentes quanto as suas características principais em comum.

Na tabela abaixo vamos primeiramente observar a densidade de cada material. A densidade é a relação entre o peso e o volume do material da lente (quantos gramas de peso temos em cada centímetro cúbico de lente?). A densidade é o fator referencial quanto a leveza da lente em si.

















Após observarmos a tabela acima podemos chegar as seguintes conclusões:

  1. Os polímeros mais leves são o Trivex e o Policarbonato
  2. Os polímeros mais pesados são as resinas 1.67 e 1.74
  3. Os minerais mais leves são os de índice 1.52 e 1.60
  4. Os minerais mais pesados são os de índice 1.80 e 1.90
  5. A exceção do Trivex e do Policarbonato quanto maior o índice maior é a densidade do material da lente face a sua concentração molecular
  6. Índice de refração alto não significa que a lente é leve. Caso o usuário esteja acostumado a um material de lente mais leve, não troque a armação e apenas compre lentes de alto índice, pode ser que ele sinta um peso final maior.
Agora na tabela abaixo vamos simular a espessura de borda (em milímetros) das lentes negativas (correção da miopia ou grau de perto negativo) prontas de fábrica em diâmetro 70mm de diversos índices em graduações a partir de -2,00. O cálculo de espessura foi executado online no site Opticampus. Eu mesmo fiz os cálculos no site, coloquei em planilha e fiz o print abaixo.

Lembrando que as espessuras assinaladas em vermelho são as de melhor custo x benefício aos usuários daquela determinada graduação.










Caso os números estejam pequenos você pode clicar na imagem com o botão esquerdo do mouse para ampliar. Deseja fazer o download da imagem para armazenar em seu computador ou smartphone? basta clicar AQUI.

Após observarmos a tabela acima podemos chegar as seguintes conclusões:
  1. Nem sempre um índice de refração alto vai reduzir tanto assim a espessura de borda de uma lente negativa. Não basta o índice mas o diâmetro da lente precisa ser bem
    reduzido de acordo com o tamanho da armação em relação as distâncias pupilares (DNP) do usuário.
  2. Policarbonato, resina 1.60 e a resina 1.67 são os materiais de lentes mais versáteis para obtenção de uma menor espessura na maioria das graduações propostas pela tabela.
  3. Até a graduação de -4,00 o policarbonato e a resina 1.60 possuem a mesma espessura de borda. Melhor usar a resina 1.60 por não ter a birrefringência que tanto incomoda no policarbonato. Acima de -4,00 a resina 1.60 fica mais fina.
  4. A resina 1.67 somente vai começar a fazer diferença na espessura em graduações entre -5,50 e -7,00.
  5. A resina 1.74 somente fará diferença na espessura em graduações entre -7,00 e -9,50. A partir de -10,00 a resina 1.74 não vai apresentar um resultado ótimo, apenas bom. A partir de -10,00 o mineral 1.80 vai fazer grande diferença na espessura em relação as lentes de resina em índices menores.

Agora na tabela abaixo vamos simular a espessura de centro (em milímetros) das lentes positivas (correção da hipermetropia ou grau de perto positivo) prontas de fábrica em diâmetro 65mm de diversos índices em graduações a partir de +2,00. O cálculo de espessura foi executado online no site Opticampus. Eu mesmo fiz os cálculos no site, coloquei em planilha e fiz o print abaixo.








Lembrando que as espessuras assinaladas em vermelho são as de melhor custo x benefício aos usuários daquela determinada graduação.

Caso os números estejam pequenos você pode clicar na imagem com o botão esquerdo do mouse para ampliar. Deseja fazer o download da imagem para armazenar em seu computador ou smartphone? basta clicar AQUI.

Após observarmos a tabela acima podemos chegar as seguintes conclusões:
  1. O índice de refração nas lentes positivas não é tão determinante para a redução da espessura de centro. As pequenas diferenças nos resultados nos fazem refletir sobre a escolha de uma armação centralizada de acordo com a DNP do usuário e também na possibilidade de trocar a lente pronta por uma surfassada que poderá durante o processo otimizar um pouco mais a espessura de centro.
  2. Policarbonato e resina 1.60 possuem a mesma espessura de centro até +4,00 e a partir de +4,00 a resina 1.60 começa a ficar mais fina. Em suma, em qualquer graduação dê preferencia a resina 1.60 não só pela espessura mas também por não ter tanta birrefringência como no policarbonato.
  3. Por incrível que pareça a partir de +5,00 a resina 1.67 começa a fazer diferença na espessura de centro em relação a resina 1.60.
  4. Qual o melhor material de lente para graduações positivas? Resposta: resina 1.60 e se for surfassada melhor ainda!
Agora na tabela abaixo vamos comparar os diversos materiais de lentes quanto a resistência dos mesmos a impactos e a presença de birrefringência visível, o que pode atrapalhar o processo de adaptação no quesito "qualidade visual".











Caso letras estejam pequenas você pode clicar na imagem com o botão esquerdo do mouse para ampliar. Deseja fazer o download da imagem para armazenar em seu computador ou smartphone? basta clicar AQUI.

Após observarmos a tabela acima podemos chegar as seguintes conclusões:
  1. O policarbonato é o único material que oferece realmente resistência a impactos mínimos, moderados e a montagem nas armações três peças ou fio de nylon.
  2. Apesar do policarbonato ter a vantagem quanto a resistência e ao bom aproveitamento de espessura (deve ser por isso que o poli é o médio índice mais vendido do mundo!) nem todos os usuários conseguem se adaptar a ele devido a elevada birrefringência que esse material possui. Muitas ópticas especializadas substituem o policarbonato pela resina 1.60 que apesar de não possuir resistência a impactos moderados leva vantagem na melhor adaptação visual e por resistir a montagem em armações três peças e fio de nylon.
  3. Quando a graduação tanto positiva quanto negativa um pouco mais elevada o policarbonato pode ser substituído pela resina 1.67, porém com uma diferença de preço maior que precisa ser justificada em função de ser mais fina e estética.
  4. Resumidamente os melhores materiais de lentes do mercado atualmente são as resinas 1.60 e 1.67, principalmente para pessoas que possuem graduações superiores a 2,00. Abaixo de 2,00 os índices mais baixos podem ser utilizados.

Conclusão

Através desse guia definitivo conseguimos analisar as características principais dos materiais de lentes para óculos mais comercializados.

Conseguimos quebrar alguns mitos que nos levavam a pensar que muitos problemas de adaptação estavam relacionados aos materiais de lentes mas muitos outros aspectos precisam ser levados em consideração para uma boa adaptação.

Precisamos investigar qual material de lente o consumidor está acostumado a usar pois caso tenhamos que trocar a matéria prima ele pode no começo "estranhar" as novas características pois quanto maior o índice de refração mais vagarosa é a entrada da luz em direção ao olho (transmissão de luz) maior é a taxa de reflexos (antirreflexo obrigatório nos índices mais altos) além da luz sofrer um desvio "mais fechado" em direção a retina (isso aumenta a resolução da imagem). Tantos parâmetros diferentes nos índices mais altos podem fazer o consumidor passar por um processo de readaptação e o mesmo precisa ser motivado a entender que essas mudanças são favoráveis.

Caso a graduação seja baixa, o índice maior só irá entrar por causa da montagem em armações três peças ou fio de nylon. Caso contrário a resina 1.56  e o Trivex são ótimos materiais pois já carregam em suas superfícies o perfil asférico (também encontrado nos índices maiores das lentes prontras) que proporcionam lentes mais planas, bonitas e também com um efeito de aumento de olho controlado, nos casos de graduações positivas.

O tema "asfericidade" com certeza vale a pena ser explorado a parte numa matéria exclusiva.

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As imagens contidas nessa postagem são meramente ilustrativas e captadas pela internet. Tabelas de comparação e espessura de lentes montada por Paulus Maciel para Blog do Paulus.

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